○ A produção de Lucas Fukumoto parte da desconstrução da essência de objetos e processos artísticos tradicionais para revelar e questionar os sistemas de validação que operam no campo cultural contemporâneo. Através de uma prática multimídia que brange desde processos gráficos e pictóricos à instalações e intervenções institucionais efêmeras, seus trabalhos habitam deliberadamente os interstícios entre o visível e o invisível, empregando estratégias como a literalização radical de conceitos técnicos, a criação de "vazios eloquentes" e a miniaturização de gestos para explorar simultaneamente a dialética entre implicidade e complexidade, permanência e transitoriedade, revelando metáforas presentes tanto nas ausências quanto nos excessos. Graduado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Fukumoto desenvolve os potenciais poéticos de suas obras através da metalinguagem, sempre privilegiando a subversão crítica dos fundamentos que sustentam tanto a produção quanto a recepção da arte contemporânea.
Matriz Perdida possui raízes na técnica de gravura, homônima, utilizando-a como base para explorar potenciais ramificações conceituais relacionadas à etimologia de seu nome, através de subversões em seu processo e sua materialidade. A composição vertical dos suportes retilíneos auxilia a noção de segmentação por etapas, a fim de ressaltar que cada painel representa um momento de metamorfose irreversível.
O primeiro painel é apenas um pedaço de formica, isolado para mostrar qual é o suporte escolhido como substituto do papel.
A retratação dos anéis de crescimento da árvore faz referência à origem do MDF e atua como uma biometria, uma vez que todos os sinais característicos da madeira, aparentes em xilogravuras, foram perdidos durante o processamento industrial.
De maneira sutil, a obra transiciona do gráfico ao escultórico, com a figuração de cortes para pranchas de madeira (Quarter Sawn e Rift Sawn) coladas sobre a primeira impressão em tinta à óleo, deixando de lado a reprodutibilidade característica da gravura, para assumir sua unicidade.
Por fim, a última etapa é a colagem do que restou da própria matriz, finalizada com formica, como uma placa de MDF, tampando a estampa que a princípio retratava sua identidade matriz.
