Esta curadoria reúne seis obras que questionam estereótipos ainda presentes em nossa sociedade. [entre] amplifica vozes que redefinem o feminino contemporâneo através de processos de criação, desconstrução e memória.

A mostra [entre] é um convite para o ecoar dessas vozes que constituem o feminino na contemporaneidade, e tudo começou com a residência artística de Daniela Azevedo que, por três dias dedicou-se na confecção de uma grande feltragem de lã natural, um trabalho metódico e exaustivo, gerando uma peça de aproximadamente 15 metros quadrados. O fruto desse trabalho se apresenta em suspensão, se transformando a cada toque, um convite que se constrói nesse embate entre as potências sutis e calorosas da materialidade e a intensidade dos rastros e instabilidade de seu processo ativo.

Em performance posterior, a mesma artista, em companhia desse grande objeto gerado, apresenta uma força antagônica, agora desconstruindo uma grande e antiga manta, também de lã, presentificando a crise dolorosa e libertadora desse processo de intensa ressignificação.

Acsah Rosa nos convida a testemunhar um processo introspectivo, conduzido com concentração e calma. Ele se inicia aqui, mas o caminho até sua eventual conclusão será longo. Unindo imagens fugidias, gravadas em pequenos quadrados de tecido, trazendo mulheres importantes para sua vida. O objetivo é criar um grande edredom, manto ou abrigo, guardião afetivo da memória.

O coletivo LIZA, em uma ação de coragem, traz uma provocação ao público criando a simulação de um contexto em que submissão e culpa colocam à prova. O público é convidado a ordenar modificações, conduzindo a identidade das personas vulneráveis posicionadas ao centro de inúmeras possibilidades, mas incapazes de acessarem quem são. À mercê das forças externas que trabalham para determinar gênero e sexo.

O coletivo composto por Ana Júlia Rodrigues Ribeiro, Beatriz Cavallari, Fernanda Banzatto e Isabela Dellamonica apresenta em sua vídeo-performance um ritual em que as personagens compartilham um labor permeado por forças conflitantes -vontade, sabotagem e colaboração. Enquanto uma tece, outra desfia, a mesma linha é resgatada por uma terceira que a devolve ao tecer.

Thatiana Cardoso, em sua vídeo-performance, por meio de uma ação aparentemente inofensiva de desenrolar um rolo de fitilho preso em sua boca, aos poucos revela sutilezas que colocam a ação em outro patamar, nada inofensivo. O processo de retirar esse objeto que bloqueia sua boca é lento e doloroso, vemos tremores, saliva e sangue.

Permita-se mergulhar nessas ações com calma e busque identificar a maneira como cada uma te toca, qual a poética que você constrói a partir delas. Seis obras, seis universos, uma mesma urgência: redefinir o que significa existir livremente. Que ecos essas vozes despertam em você?

curadoria: Leandro Roman