Goetheanas – Dia

Texto conceitual

Em 2022, passei aproximadamente dois meses gravando um documentário na amazônia paraense, sendo uma parte deste período na região de Altamira e Uruará e a outra na Estação Ecológica da Terra do Meio no Médio Xingu. Esta experiência foi extremamente impactante e reverbera até hoje, devido à sua riqueza espiritual, biológica, cultural, etnica, social e política. Neste período, entre uma brecha e outra das filmagens, aproveitava para fotografar livremente, imprimindo meu olhar sobre as paisagens, pessoas e animais. Em muitos momentos, fui impactado pela imensidão da natureza, pelos rios, pelas árvores e plantas, pelos animais e pelo céu estrelado. É difícil traduzir em palavras, pois me sentia pequeno e grande ao mesmo tempo, em total conexão com o meio, sentindo-me parte de um todo infinitamente maior. Nestes momentos, em contato com a natureza, muitas vezes sem qualquer vestígio de presença humana, eu vi e senti o divino dentro de mim, como um arrebatamento. Em raros momentos da minha vida, como no dia do nascimento do meu filho, me senti tão conectado com Deus e com a criação. Foi como se Deus se materializasse, não antropomorficamente, mas no céu e na paisagem. Meus registros fotográficos buscaram se aproximar visualmente destas experiências, através das luzes e das cores. Inevitavelmente, fui buscar apoio em Goethe e em sua Teoria das Cores. . Para Goethe, as cores possuem uma dimensão espiritual e sensorial, resultando da interação dinâmica entre luz e escuridão, e não apenas de um fenômeno físico. Goethe via a luz como um princípio ativo e a escuridão como uma força que a atenua ou limita, resultando na cor. Suas ideias inspiraram artistas como Wassily Kandinsky, Willian Turner e tantos outros. Pensado na força deste dualismo e naquilo que dele resulta, apresento o diptico "Goetheanas - Noite e Dia", como uma forma de materializar visualmente parte da experiência arrebatadora vivenciada em contato com a natureza profunda da amazônia.